
Sandro Lopes
Freud e a Cocaína
Inicialmente o jovem Freud queria uma estabilidade financeira para poder se casar com Martha. Neste mesmo momento se deparou com o alcalóide que prometia revolucionar a medicina psiquiátrica da época que não tinha muitas substâncias para estimular o sistema nervoso central. Pesquisou fervorosamente acreditando piamente na nova droga, defendendo seus efeitos terapêuticos e testando em várias doenças como a diabetes e o enjôo marítimo. Foi aclamado na época pela comunidade médica pelos seus resultados e sua reputação correu o mundo. Com seu ego inflado Freud demorou muito a aceitar as criticas e perigos que a cocaína anunciava, relatos no mundo inteiro começaram a chegar sobre viciados e mortes. Dentre as controvérsias que cercam o episódio da cocaína, encontra-se o doloroso episódio de um colega e amigo (Koller) que teria “roubado” a fama por publicar em seguida um trabalho sobre os efeitos anestésicos da cocaína; a história trágica de outro amigo (Fleischl) cujo vício em morfina Freud incentivou a tratar com uso de cocaína e que acabou morrendo... Com a busca pela panacéia e a ambição dele, a analogia com o livro “O estranho caso de Dr. Jekyll e Mr. Hyde, Robert L. Stevenson (1886)” é inevitável. O médico inteligente e cativante que busca fazer uma grande descoberta, isola-se em seu laboratório e inventa uma droga que se auto-administra, despertando reações estranhas e desconcertantes. Ao invés de buscar o auxílio e a mediação dos outros da comunidade – figuras da experiência do senso comum – mergulha cada vez mais em seu projeto. Traz à luz, assim, outro “Eu” sinistro que passa paulatinamente a dominá-lo, revelando a face sombria de seu projeto científico: uma dimensão anti-social, selvagem e megalomaníaca de si mesmo até então adormecida. A duplicidade do médico e o monstro no momento que Mr. Hyde entra em ação, certamente estamos diante de um episódio maníaco de origem química, e quando Dr. Jekyll “volta” a si após os surtos, podemos reconhecer aquele estado depressivo típico da ressaca do dia seguinte... Com o fracasso na busca da panacéia, ele rompeu com a quimioterapia dando espaço para a formulação dos primeiros métodos de terapia psicanalítica, desenvolveu o desejo de curar sem o uso de drogas , que culminou no desenvolvimento da Psicanálise, inicialmente a hipnose e a sugestão. “A cura através da palavra”.